Dos bancos escolares para a escola da vida

Nossa sociedade não tem formado seres humanos capacitados para analisar a configuração estabelecida nos relacionamentos atuais, suas dinâmicas e prejuízos. Não há propostas para um debate sério ou uma reflexão consistente, em que haja questionamentos sobre valores e atitudes favoráveis e desfavoráveis à ordem e ao progresso sustentável.

Estamos atrofiando nossa capacidade de expressar e acolher sentimentos. Muitos de nós não sabemos nem sequer lidar com o choro, que é um sentimento tão natural. Quantos de nós nos sentimos constrangidos diante de alguém emocionado, sem saber o que fazer e o que dizer?

Dos bancos escolares para a escola da vida

A educação tem papel de destaque em nossa formação. A escola atua como um depositário de sonhos com a função de auxiliar na construção do desejo de sermos “alguém na vida”. Tem a missão de influenciar pessoas, apontar caminhos, oferecer suporte na formação e animar vidas.

Os professores, por vocação, atuam como referências de autoridade e confiança, estimulando nosso imaginário e nos possibilitando indagar, silenciosamente entre lições, pó de giz e projeção multimídia, “O que eu quero ser quando crescer”?

Atualmente, a nobre missão de educar tem sido represada diante da falta de reconhecimento dos profissionais da área e do perfil do aluno emergente. Nas salas de aula, encontramos mestres que se deparam com o grande desafio de cumprir à risca seu cronograma e agenda escolar diante de um grupo de alunos muitas vezes dispersos e ansiosos devido ao estilo de vida que levam, onde são estimulados continuamente por suas redes de relacionamento, pelo desejo de consumo tecnológico volátil e jogos de vídeo games que convidam a uma realidade violenta e repleta de informações contraditórias que confundem, distorcem valores e incitam a agressividade.

Além disto, para agravar o quadro, nossos jovens são submetidos de modo ostensivo ao apelo das mídias sociais e digitais que propagam gostos musicais duvidosos com conteúdo empobrecido, confusão na definição da identidade sexual, acesso facilitado para o uso de drogas de todos os tipos, agravando a situação.

O lado positivo desta história é apresentado por pesquisadores que relatam um aumento da criatividade e da curiosidade devido à estimulação eletrônica. A questão que exige cuidado é o equilíbrio entre tecnologia e vida pessoal para gerenciarmos adequadamente os reflexos evidentes deste “progresso”.

A sociedade e a educação adoeceram. Diante desta dura realidade, muitos educadores tanto da rede pública quanto privada, estão despreparados para atuar; um “chamado” colocado à prova diante de uma situação cansativa, que assusta e desmotiva.

Assim, observamos uma polaridade na conduta de vários professores: da atitude controladora, em que os alunos são pressionados a se comportarem sob risco de vexame, indo até a atitude de reféns desta situação, podendo, neste caso, os alunos dominarem o ritmo do ensino.

Os alunos não são preparados para administrar conflitos e frustrações. São induzidos a decorar conteúdos escolares, questionáveis do ponto de vista aplicável. Ainda fazem poucas conexões, refletem superficialmente e de acordo com a maioria. Seguem o fluxo mesmo em tempos considerados “ultramodernos”. E, se pouco muda, como daremos saltos de inovação? Como exerceremos liderança reproduzindo a tendência?

Como amadureceremos reprimindo emoções?

Muitos de nós somos dependentes da opinião dos outros e da angústia que sentimos diante das decepções. Como impressionar sendo este ser humano reprimido e, outras vezes, transgressor? Impressionar a quem? Impressionar para quê?

Felizmente, há exceções que nos ajudam a reverter este quadro dramático. Há exemplos de professores que nos devolvem a convicção de dias melhores. Nos orgulhamos diante dos verdadeiros Mestres da Educação Brasileira que ensinam com elegância a diferença entre a crítica construtiva e o julgamento pernicioso, esclarecendo que a crítica produtiva nos presenteia com a possibilidade da reformulação interior a partir da visão descontaminada do outro sobre mim.

Já o julgamento nos condena com rótulos que tendem a cercear nossa capacidade de fazer acontecer, atitude que favorece imensamente a autonomia e a autoria diante de nossa vida.

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