Quero iniciar esta reflexão com uma citação que aprendi com meu psicanalista e que uso com meus pacientes na psicoterapia: “Repartir não é ficar sem”!
Fazer o bem é maravilhoso. Quem oferece ganha muito mais do que aquele que recebe. Quem pratica doar de si sabe muito bem do que estou falando.
Somos invadidos por uma emoção de ternura comovente todas as vezes que temos a oportunidade e a possibilidade de fazer o bem para as pessoas. A ética é a base que sustenta a bondade.
Por outro lado, quero que você cuide para não se esvaziar de tanto dar. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. (Marcos 12:30-31). O segundo mandamento dado por Cristo é um imperativo que ordena que sejamos equânimes na relação de amor. Não foi dito “amar um os outros”. Foi dito “amar uns aos outros”.
Dar além do que se pode, do que se quer e do que se deve, se cobrando para continuar dando e fazendo disto uma obrigação que se não for cumprida desperta culpa, é ser injusto e antiético com você. Esteja consciente do seu limite e da importância de fazer o bem para si e depois para o outro.
Não digo isto para torná-lo egoísta, mas para ensiná-lo a cuidar de você. Tenho esta intenção. Não me interprete mal. Como eu recebo este benefício, eu desejo dá-lo a você, estender o privilégio de poder vivê-lo.
Também quero alertar para o cuidado com a “bondade maléfica”, que é a atitude de dar e depois cobrar o que se deu. Isto também não é ético e não é fazer o bem. É barganhar, manipular, chantagear. Faça algo para alguém apenas se você quiser. Não faça pensando em lucrar com isto, cobrando juros e correção monetária.
Isto cria aversão nas pessoas em aceitar ajuda pelo medo de que, fazendo concessão, elas poderão ser devedoras e virem a ser cobradas num momento inoportuno. Isto gera pobreza de espírito, escassez, economia de doação e timidez para promover o bem. As pessoas ficam com seu “freio de mão puxado” e perdem a vontade tanto de doar quanto de receber.
Agindo com ética, demonstramos rigor e sentimos uma deliciosa sensação de bem-estar pelo bem oferecido. Podemos “descansar” em nossa ética quando nos convencemos que estamos fazendo nosso melhor, lembrando que ninguém dá o que não tem.
Portanto, precisamos trabalhar para ter o que oferecer. Bons pensamentos, bons sentimentos e boas atitudes são conquistas que vão construindo nossa vontade de fazer o bem, para si e para o outro. Isto contribui para a formação da nossa autoimagem e nossa imagem social.
Para finalizar, quero usar um exemplo. É prática comum e compõe a rotina dos comissários de bordo dos aviões, uma explicação aos passageiros antes de a aeronave decolar.
Eles informam: “em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão sobre sua cabeça; coloque primeiro em você para depois colocar no outro”.
Saudáveis, podemos fazer diferença na vida de alguém, mas, fragilizados, não temos como socorrer nem o outro e nem a nós mesmos.
Como você tem cuidado de você para poder cuidar de alguém? O que tem feito para se manter saudável?