Quantos de nós tem acesso a feedback sobre si isento de preconceitos e conveniências? Você já parou para pensar que ouvimos pessoas falarem conosco sobre nós como se fossem especialistas em desenvolvimento humano e soubessem mais de nós do que nós próprios?
Quero alertar sobre o perigo de acreditar nestas opiniões recebidas como verdades absolutas que se não forem relativizadas mediante seu crivo crítico, o colocará diante de um espelho distorcido que pode induzi-lo a se equivocar em suas conclusões acrescentando muito pouco valor no seu enriquecimento pessoal.
O ser humano busca por segurança, prestígio e aprovação. Reivindicamos privilégios e cuidados especiais desde o nascimento. Esta procura faz parte da nossa espécie e é nossa herança cultural. Desde o tempo dos homens das cavernas até o homem digital, estamos sempre querendo mais para desfrutar da sensação de força e euforia diante das conquistas.
Os tempos mudaram, o mundo conheceu novas gerações com diferentes perfis e estilos e mesmo assim, somos impulsionados pelos mesmos desejos primitivos. Muitas de nossas reações são meras respostas condicionadas, fruto de repetições sem muita reflexão. Aprendemos a reproduzir a partir do modelo familiar, escolar e social. Nos condicionamos a agir como agimos. Encontramos boas desculpas para justificar nossos atos e nos eximir de responsabilidade para mudarmos nossa conduta. Por que agimos assim?
Somos o resultado de projeções idealizadas que incidem como sombras que vão esculpindo nossas crenças e nosso jeito de ser e viver, bem como um conjunto de fatores históricos que interferem no nosso funcionamento e definem padrões sociais e estados psicológicos.
As marcas de uma história
Fomos colonizados em um regime extrativista de exploração, sucateamento e descompromisso. A premissa dominante era levar vantagem e tirar o máximo proveito. Essa marca foi impressa na cultura brasileira e temos vivido sob o domínio do estigma de “ser esperto”. O “jeitinho brasileiro” trouxe consequências devastadoras para nossa nação que tem vivido episódios sucessivos de má-fé, corrupção escandalosa, omissão constante, violência crescente e manipulação abusiva.
Vamos convivendo com desgraças e com a deterioração da esperança de dias melhores frente ao aumento vertiginoso no número de pessoas desempregadas, indiferentes e inseguras. Nos falta confiança e vontade de protestarmos contra aquilo que nos agride. Nos enfraquecemos porque não temos espírito coletivo focado no bem comum.
Vivemos isolados e afogados em nossos problemas. A realidade com que nos deparamos escancara a ausência de referências de gestão e caráter éticos. Onde estão os bons exemplos que nos inspiram? Desapareceram gradativamente dando lugar a uma sensação de estarmos desamparados. Nos defendemos desta situação, agindo de forma reativa, seguindo a maioria e instaurando a imitação.
Desde cedo aprendemos a não nos envolver, sendo aconselhados a não nos importar com o que não é da nossa conta e alertados sobre o cuidado que devemos ter em expressar nossos sentimentos e dizer a verdade sob a ameaça de sermos massacrados com o uso desleal destas informações.
Postulações como estas nos transformam pouco a pouco em pessoas submissas, defensivas, medrosas e agressivas. Até quando vamos suportar isto e em nome de que? É tempo de reeditarmos nossos comportamentos em direção a respostas mais condizentes com a sociedade democrática que pretendemos ser.