A sociedade conspira para a corrupção de si própria. Nos incentiva a mentir, fingir, acusar, usar subterfúgios e desculpas para explicarmos manobras. Uma tendência replicada e propagada em todos os cantos. Não é a ocasião que faz o ladrão. Ela apenas o revela.
Não é possível disfarçar sem deixar cair a máscara. É uma questão de tempo e a verdade vem à tona. Quantos não proferem frases do tipo “aquela pessoa faz tudo errado e, ainda assim, se dá bem na vida”? Este modelo controverso, sob a ótica do imitar o pior, torna a sociedade corrupta e medíocre.
Nos distanciando com altivez das pessoas que não são como nós. Nos colocamos acima do bem e do mal, numa posição de proteção emocional. O outro é o problema e eu sou a solução. Não temos nada de errado ou quase nada. O outro é quem nos persegue e quer nos prejudicar por inveja ou ciúme e acaba por nos induzir a cometermos atitudes que não gostaríamos, se não fosse por ele nos tirar o sossego.
Esta é a crença da maioria de nós. O que está por trás disto tudo? Defesa! Uma forma que encontramos de anestesiar a dor por não aceitarmos a condição de sermos limitados. Nos embriagamos com nossa sede de sermos perfeitos e apelamos com disfarces que se expressam na armadura usada para proteger nosso sofrimento sem fim, nos preenchendo com cálices de superficialidade, compulsão, sintoma, doença, brindando nossa indiferença e nosso isolamento.
Nos apegamos às aparências, a objetos materiais, a títulos, a posses para tentar enganar esta nossa aflição. Na ânsia de mais notoriedade, nos endividamos, nos sobrecarregamos e nos desumanizamos. Competimos de forma predatória, nos desqualificamos.
Banalizamos nossos feitos, “o que é demais nunca é o bastante”. Sempre estamos “quase lá”, mas ainda não chegamos lá. E, nesta roda viva, quanto mais tentamos fugir de nossa humanidade mais topamos com ela, seja nos nossos pesadelos com o recado que nos dão, seja na imagem do olhar entristecido refletido diante do espelho, seja no silêncio inoportuno da noite que grita um segredo escondido.
Estamos constantemente nos esquivando do encontro conosco. Nos recriminamos e nos punimos, porque não queremos encarar nossas fragilidades encobertas.